A HISTÓRIA DAS COISAS. The Story of Stuff. Com Annie Leonard

Da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países, a maior parte delas longe de nossos olhos.

História das Coisas é um documentário de 20 minutos, direto, passo a passo, baseado nos subterrâneos de nossos padrões de consumo.

História das Coisas revela as conexões entre diversos problemas ambientais e sociais e é um alerta pela urgência em criarmos um mundo mais sustentável e justo.

História das Coisas nos ensina muita coisa, nos faz rir, e pode mudar para sempre a forma como vemos os produtos que consumimos em nossas vidas.

HISTÓRIA SECRETA DA OBSOLESCÊNCIA PLANEADA. Movimento Zeitgeist. The Zeitgeist Movement

THE ZEITGEIST MOVEMENT

http://www.zeitgeistportugal.org/

O Movimento Zeitgeist não é um movimento político, nem tão-pouco reconhece nações, governos, raças, religiões, credos ou classes. Estas distinções são incoerentes e obsoletas, estando longe de serem factores positivos para o verdadeiro desenvolvimento e potencial humano. As suas bases assentam na divisão de poder e na estratificação, não na igualdade e união, que são os nossos objectivos. Se é importante perceber que tudo na vida é o resultado de um progresso natural, devemos também reconhecer que a espécie humana tem a capacidade de reduzir drasticamente ou paralisar este progresso, através de estruturas sociais obsoletas, dogmáticas e, consequentemente, desalinhadas da própria natureza. O mundo a que assistimos hoje, repleto de guerra, corrupção, elitismo, poluição, pobreza, doenças epidémicas, abusos dos direitos humanos, desigualdade e crime é o resultado dessa mesma paralisia social.

O Movimento prossegue a consciência, advogando desta maneira uma evolução fluida e progressiva, tanto a nível pessoal, como social, tecnológico e espiritual. Ele reconhece que a espécie humana caminha naturalmente para a unificação, com base num entendimento comum e empírico de como a natureza funciona e, de como nós, humanos, fazemos parte integrante deste processo a que chamamos “vida”. Embora este caminho exista, ele encontra-se infelizmente obstruído e ignorado pela maioria populacional humana, que continua a perpetuar modos de conduta e instituições antiquadas e degenerativas. É esta irrelevância intelectual que o Movimento Zeitgeist espera ultrapassar graças à educação e à acção social.

O objectivo é rever a sociedade de hoje de acordo com os conhecimentos actuais, não só fomentando a consciência quanto às possibilidades tecnológicas e sociais existentes, para as quais muitos foram condicionados a pensar serem “impossíveis” ou contra a “natureza humana”, mas também providenciar um caminho para ultrapassar estes elementos perpetuados por um sistema de sociedade obsoleto.

O Movimento não é uma construção centralizada.

Não existimos para liderar, mas para organizar e educar.

O Que Advogamos

Resumidamente descrevendo o Movimento em 10 pontos, o mesmo:

1)  Reconhece que a nossa conduta actual no planeta é simplesmente insustentável e advoga a transição para um novo sistema apelidado de Economia Baseada em Recursos;
2) Reconhece que, através do uso humano da tecnologia, temos a possibilidade de providenciar muito mais recursos em abundância para todas as pessoas do planeta, criando assim um sistema de acesso em vez de um sistema de propriedade e dinheiro;
3) Reconhece que o nosso modelo actual de emprego encontra-se obsoleto e desalinhado com a realidade tecnológica de hoje, estando assim impotente face ao problema do desemprego tecnológico. Advogamos o uso de automatização na produção de bens e serviços, removendo onde for possível a necessidade de mão de obra humana, maximizando a eficiência e eliminando assim trabalhos monótonos e repetitivos, para permitir que o ser humano persiga aquilo que mais desejar;
4) Reconhece que a sociedade deverá possuir uma relação simbiótica com a natureza de maneira a se tornar sustentável e, deverá atingir e manter um equilíbrio ecológico vivendo em harmonia com o planeta e não contra ele;
5) Advoga uma mudança completa na forma como operamos este planeta, pois é um factor crucial se desejamos evitar o colapso social numa escala global;
6) O Movimento deseja remover e transcender as condições necessárias para a existência de governos e leis, focando-se em tratar as raízes dos nossos problemas sociais e ajustando o ambiente de maneira a que tais comportamentos aberrantes e necessidades não se materializem;
7) O Movimento advoga a utilização do método científico para questões sociais e ambientais, chegando às decisões baseando-se em dados estatísticos e lógica direccionada para a maximização de eficiência em operações técnicas, em vez de opiniões baseadas em interesse próprio ou nacional por parte de políticos ou empresários;
8) O Movimento é primariamente um movimento social, defendendo um sistema que encoraja a colaboração em vez de competição e, que tenha como base a união e igualdade.
9)  O Movimento não é uma instituição ou organização política e, como está estruturado em volta de projectos e objectivos, opera sem líderes ou hierarquia.
10)  O objectivo do Movimento é iniciar uma transição para uma Economia Baseada em Recursos, através da difusão de conteúdo, criando assim consciência social em massa sobre o conceito.

THE CORPORATION. Documentário

Ficha Técnica

título original: The Corporation

gênero: Documentário

duração: 2 hr 25 min

ano de lançamento: 2004

site oficial: http://www.thecorporation.com/

estúdio: Big Pictures Media Corporation

distribuidora: Zeitgeist Films / Imagem Filmes

direção: Jennifer Abbott, Mark Achbar

roteiro: Joel Bakan e Harold Crooks

produção: Mark Achbar e Bart Simpson

música: Leonard J. Paul

fotografia: Mark Achbar, Rolf Cutts, Jeff Koffman e Kirk Tougas

direção de arte: Henry Faber

edição: Jennifer Abbott

Elenco 

  • Mikela J. Mikael (Narrador – voz)
  • Jane Akre
  • Ray Anderson
  • Maude Barlow
  • Chris Barrett
  • Noam Chomsky
  • Peter Drucker
  • Samuel Epstein
  • Milton Freidman
  • Naomi Klein
  • Susan E. Linn
  • Luke McCabe
  • Robert Monks
  • Michael Moore
  • Vandana Shiva
  • Steve Wilson
The Corporation
A ambição que destrói o mundo
João Luís de Almeida Machado, Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema” (Editora Intersubjetiva).

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Descobri por esse fabuloso documentário chamado “The Corporation” que somos todos responsáveis pelo que se chama “Tirania Intergeracional”. De acordo com esse conceito determinamos de forma despótica os rumos da vida nesse planeta ao gerenciarmos de forma irresponsável e inconseqüente os recursos que por aqui existem. Estamos legando para as próximas gerações de habitantes da Terra um mundo destruído, falido e, para finalizar, doente ou até mesmo morto…

 

Condenamos pessoas que ainda nem nasceram a viver num estado praticamente irreversível de penúria. Definimos a extinção de espécies vegetais e animais sem nem ao menos nos darmos conta de que estamos fazendo isso. Poluímos a água, o ar e o solo tornando estéreis cada um desses recursos de inestimável valor. Exploramos a mão-de-obra alheia, distante ou próxima de nós mesmos, sem nos dar conta dos grandiosos prejuízos que causamos a crianças, idosos, homens e mulheres que trabalham por salários miseráveis…

 

E como nos tornamos responsáveis por todas essas atrocidades se nem ao menos percebemos a extensão de nossos atos e a repercussão dos mesmos? Na esmagadora maioria dos casos, não nos damos conta dos acontecimentos ao nosso redor a não ser que de alguma forma isso nos afete diretamente. Estamos alienados, somos insensíveis e ficamos tão presos ao cotidiano de nossas vidas que perdemos a capacidade de enxergar além de nossos próprios umbigos.

 

Quando compramos uma camisa, um par de tênis ou um automóvel, atos aparentemente banais para a vida de milhares e milhares de pessoas mundo afora não percebemos que podemos estar financiando a continuidade da exploração da mão de obra de pessoas que nada mais têm a oferecer para garantir sua sobrevivência senão sua mão-de-obra barata. E é justamente em busca de oportunidades de maximizar seus lucros e ganhar cada vez mais e mais dinheiro que grandes corporações multinacionais se estabelecem em países em desenvolvimento.

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Ao sermos mobilizados pela mídia e pela propaganda para consumir desenfreadamente até mesmo produtos que não queremos, precisamos ou desejamos, estamos fazendo com que os recursos naturais se esgotem rapidamente sem que isso seja necessário. Estimulamos um desnecessário aumento da produção industrial e, como conseqüência disso, a emissão de poluentes na atmosfera cresce até atingir índices que tornam difícil ou até mesmo impossível a vida das pessoas.

 

Somos levados a agir dentro de um sistema em que a nossa vida é totalmente definida a partir de diretrizes que são criadas por empresas, respaldadas por governos. Perdemos a autonomia sem que isso fosse perceptível aos nossos olhos. É como se, de repente, tivéssemos realmente ingressado num mundo imaginário controlado por forças exteriores aos nossos próprios desígnios e comandos. Vivemos aquilo que vimos, admiramos e reverenciamos nas telas do cinema a partir de obras como “Matrix”, dos irmãos Wachowsky.

 

O pesadelo de obras literárias geniais como “Admirável Mundo Novo” (de Aldous Huxley) ou “1984” (de George Orwell) está se configurando na realidade de nossos dias a partir da ação praticamente invisível aos nossos olhos de gigantescas empresas de diferentes nacionalidades e setores de atuação.

 

Somos levados cada vez mais a agir de forma passiva, aceitando a tudo que nos é imposto ou pedido sem que nos manifestemos ou que percebamos as conseqüências das ações que ajudamos a desencadear. Temos que ser perfeitos cidadãos e profissionais caracterizados em nossas práticas pela excelência de nossos préstimos. Não podemos constituir vozes dissonantes, verdadeiramente críticas, que atentem contra a ordem e a anomalia que se esconde por trás do cotidiano e da normalidade de todos os dias.

 

Nos tornamos personagens de um filme que já foi produzido e que nos motivou a rir muito de seu personagem central, tão parecido com cada um de nós em sua candura, ingenuidade e ignorância. Somos todos irmãos de sangue de Truman Burbank (Jim Carrey) no fantástico “O Show de Truman”, do diretor Peter Weir. Até quando seremos assim? Será que conseguiremos enxergar pelas poucas frestas que nos permitem arejar nossos pensamentos e entender um pouquinho melhor o funcionamento do mundo em que vivemos?

 

“The Corporation”, dirigido por Jennifer Abbott e Mark Achbar, pretende ser justamente uma dessas falhas no sistema que nos permitem aspirar a liberdade e a salvação. Documentário construído a partir de um belíssimo trabalho de edição que alterna imagens jornalísticas, depoimentos, trechos de filmes antigos, animações, peças publicitárias e imagens estáticas, “The Corporation” nos coloca em contato com o inimaginável mundo em que nada somos além de “apertadores de botões” que tocam uma poderosa e escravizante máquina ávida por capital rumo a um amanhã que nem sabemos se existirá…

O Filme

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Corporações são como tubarões. Têm objetivos bem definidos, são frias e não param enquanto não atingirem suas metas. O problema é que sua fome é incessante e, portanto, promovem mortes e desgraças sem que tenhamos qualquer idéia quanto a se isso irá parar algum dia…

 

Não se iluda, a definição dada acima é uma metáfora criada por uma das pessoas que enriquecem cada minuto do documentário “The Corporation” ao socializarem experiências, ações, práticas e acontecimentos que foram por elas vivenciados ou estudados para que entendessem melhor o mundo atual, dominado pelas empresas de grande porte.

 

Chegou-se a conclusão de que não percebemos mais a interferência frequente e diária dessas empresas em nossas vidas. Não apenas a partir dos produtos e serviços que elas nos oferecem, mas também a partir das “externalidades” que também são por elas legadas ao grande público. Entenda-se que esse conceito refere-se ao custo de suas operações que nos é transferido através da destruição do meio-ambiente, das guerras promovidas para suster seus rendimentos ou ainda pela fome e miséria causada entre os pobres trabalhadores do mundo não desenvolvido.

 

Corporações são consideradas como pessoas perante a lei. Podem comprar, vender, alugar, acionar judicialmente, sofrer perdas, capitalizar ganhos, incorporar patrimônio e tantas outras ações que as pessoas físicas realizam durante suas existências nesse planeta. Diferentemente de mim ou de você, não têm corpo físico definido e, tampouco, alma…

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Sua principal razão de ser é a obtenção de lucro, mesmo que isso se oponha ao bem estar comum de toda a coletividade humana. Legalmente há subsídios que sustentam esse princípio e que, caso contestados judicialmente, há de legar ao proponente do recurso um enorme rombo em seu orçamento já que se trata de uma causa perdida…

 

Isso significa que temos que rever a forma como estamos vivendo em nossos países. Não podemos ser escravos silenciosos de um sistema opressor que nos afaga com bens materiais e que compra a nossa cooperação com mais e mais dinheiro sempre que nos mostramos descontentes e ameaçamos iniciar uma rebelião contra modo de produção dominante.

 

A certa altura do documentário um alto executivo de uma multinacional se diz, em alto e bom tom, impotente para mudar qualquer ação da empresa onde trabalha, mesmo considerando que muitas das práticas contrariam seus princípios e filosofia de vida. Outro depoimento, de um destacado consultor do mercado financeiro, atesta que graves crises, como o ataque terrorista ao World Trade Center, ou guerras, como aquelas que são travadas no Oriente Médio, são um ótimo negócio para os investidores que apostam suas fichas diariamente em ouro, petróleo, indústria bélica, água, alimentos,…

 

Quando chegamos a um ponto onde não há mais espaço para a sensibilidade ou para a solidariedade, estamos literalmente no fundo do poço e pouco conseguimos ver da luz que ilumina a entrada desse buraco onde fomos parar. “The Corporation” provoca a nossa reação de forma inteligente e hábil, mobiliza nossos sentidos e tenta nos tirar dessa grande letargia que nos encaminha para a morte coletiva do ser e do planeta.

 

Premiado em festivais, tem a participação de personalidades que estão dentro e fora das empresas e que realmente botam lenha na fogueira. Noam Chomsky, Michael Moore, Naomi klein, Peter Drucker, Milton Friedman e tantos outros enriquecem o debate e falam sobre situações que poucos conhecem ou desconfiam que tenham ou estejam acontecendo. É nitroglicerina pura. Pena que tenha distribuição tão restrita. No futuro talvez venha a ser até mesmo censurado como atentado terrorista…

Para Refletir

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1- Você já parou para pensar o quanto temos que destruir o planeta para obter um dólar de lucro na venda de um produto ou serviço? Já imaginou que a Terra é como uma mina na qual bilhões de pessoas se engalfinham diariamente em busca de seu quinhão de riquezas a esburacar suas já sofridas entranhas? Não, não sou um radical membro de uma dessas conhecidas organizações que querem proteger o meio-ambiente e a pergunta inicial dessa reflexão foi cunhada por um alto executivo de uma grande, rica e poderosa multinacional em depoimento ao documentário “The Corporation”. Nesse sentido ela poderia nortear nossa reflexão e nos mobilizar em busca do custo real por trás de iniciativas humanas de desenfreada perseguição ao lucro. Afinal, para ganhar um dólar quanto tivemos que gastar ou destruir?

2- O que é desenvolvimento sustentável? Que tal perseguir a definição desse conceito com seus estudantes a partir de depoimentos, livros, revistas, jornais ou Internet? Mais do que simplesmente um conceito estamos falando de uma prática que pode nos ajudar a salvar o mundo e também a humanidade…

3- As “maçãs podres” mencionadas no início do filme são grandes corporações norte-americanas envolvidas em escândalos que abalaram o mercado financeiro. Há também denúncias relativas a exploração do trabalho em países pouco desenvolvidos, venda de produtos que causam malefícios aos animais e aos humanos, destruição do meio ambiente,… Assistam o filme e enumerem os casos apresentados relacionando-os aos enormes prejuízos causados. Informem-se pela imprensa a respeito de histórias semelhantes que aconteceram no Brasil e em outras partes do mundo apenas nos últimos meses ou semanas…

4- O que podemos fazer? Que tal buscar a palavra de especialistas, estudiosos, membros dos governos e países, da ONU, das ONGs e também da população? As pessoas sabem o que está acontecendo? O que elas pensam a respeito de tantas e tantas denúncias? Precisamos de respostas, o nosso tempo pode estar acabando sem que tenhamos condições de fazer nada…

Publicado originalmente no site Planeta e Educação:

http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=618


DA SERVIDÃO MODERNA. Jean-François Brient

“Toda verdade passa por três estágios.
No primeiro, ela é ridicularizada.
No segundo, é rejeitada com violência.
No terceiro, é aceita como evidente por si própria.”

Schopenhauer

O texto foi escrito na Jamaica em outubro de 2007 e o documentário foi finalizado na Colômbia em maio de 2009. Existe nas versões francesa, inglesa e espanhola. Elaborado a partir de imagens essencialmente oriundas de filmes de ficção e de documentários. (Fonte: You Tube, página de hospedagem do doc.)

“CONFORMISMO ANESTESIADO PELO CONSUMO”: Laurindo Leal Filho

DEBATE ABERTO

O partido único da mídia

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira.

Laurindo Lalo Leal Filho, na Carta Maior

A superficialidade e o descrédito a que chegaram os meios de comunicação tradicionais no Brasil é incontestável. Posicionamento político-partidário explícito e “reengenharias” administrativas estão na raiz desse processo.

Dispensas em massa de profissionais qualificados explicam, em parte, a baixa qualidade editorial. Foi-se o tempo em que ler jornal dava prazer. Mas fiquemos, por aqui, apenas na orientação política.

A concentração dos meios e a identidade ideológica existente entre eles criou no país o “partido único” da mídia, sem oposição ou contestação. Ditam políticas, hábitos, valores e comportamentos. O resultado é um grande descompasso entre o que divulgam e a realidade. Hoje, para perceber esse fenômeno, não são mais necessárias as exaustivas pesquisas em jornalismo comparado, tão comuns em nossas academias lá pelos anos 1980.

Agora basta abrir um jornal ou assistir a um telejornal e compará-los com as informações oferecidas por sites e blogues sérios, oferecidos pela internet. São mundos distintos.

No caso da mídia brasileira essa situação começou a se consolidar com a implosão das economias planificadas do leste europeu, na virada dos anos 1980/90.

Em 1992, no livro “O fim da história e o último homem”, ampliando ideias já apresentadas em ensaio de 1989, Francis Fukuyama punha um ponto final no choque de ideologias, saudando o capitalismo como modo de produção e processo civilizatório definitivo da humanidade, globalizado e eternizado.

Tese rapidamente endossada com euforia pela mídia conservadora e hegemônica que, a partir dai, pautaria por esse viés seus recortes diários do mundo, transmitidos ao público. Faz isso até hoje.

Só que, obviamente, a história não acabou. Ai estão as crises cíclicas do capitalismo, neste início de milênio, evidenciando-o como modo de produção historicamente constituído, passível de transformações e de colapso, como qualquer um dos que o precederam. Mas a mídia trata o capitalismo como se fosse eterno, excluindo de suas pautas as contradições básicas que o formam e o conformam. Dai a pobreza de seus conteúdos e o seu distanciamento da realidade, levando-a ao descrédito.

De fomentadora de ideias e debates, fortes características de seus primórdios em séculos passados, passou a estimuladora do conformismo e da acomodação. Para ela o motor história não é a luta de classes e sim o consumo, apresentado em gráficos e infográficos, alardeando números e índices que, muitas vezes, beiram o esotérico.

Se nos anos 1990 essas políticas editoriais obtiveram relativo êxito apoiadas na expansão do neoliberalismo pelo mundo, na última década a realidade crítica abalou todas as certezas impostas ideologicamente. As contradições vieram à tona.

No entanto a mídia, reduzida e conservadora, especialmente no Brasil, segue tratando apenas das aparências, deixando de lado determinações mais profundas. Movimentos anti-capitalistas espalhados pelo mundo são mencionados, quando o são, particularmente pela TV, como “fait-divers”, destituídos de sentido, a-históricos. Seguindo rigorosamente a tese de Fukuyama.

Fazendo jus ao seu papel de “partido único”, os meios oferecem ao público, como elemento condutor de sua ideologia conservadora, algo que genericamente pode ser chamado de kitsch. Definição dada pelos alemães no século passado para a arte popular e comercial, feita de fotos coloridas, capas de revistas, ilustrações, imagens publicitárias, histórias em quadrinhos, filmes de Hollywood. Atualizando seriam os nossos programas de TV, os cadernos de variedades de jornais e revistas, as músicas e as preces tocadas no rádio.

Esse é o prato diário da mídia, oferecido em embalagens sedutoras e entremeado de informações ditas jornalísticas, apresentando o mundo como um quadro acabado, inalterável. Não existindo alternativas, resta o conformismo anestesiado pelo consumo, ainda que para muitos apenas ilusório.

Claro que esse quadro midiático tem eficácia até certo momento, enquanto realidade e imaginário de alguma forma guardam proximidade. Mas ele também é histórico e, portanto, mutável.

Enquanto as contradições básicas da sociedade, aqui mencionadas, permanecerem existindo, a integração das consciências “pelo alto” será irrealizável, alertava Adorno, num dos seus últimos textos. Por mais que os meios de comunicação se esforcem por integrá-las.

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Confrontados com a internet desabam. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira. Sem falar na contribuição dada a esse processo pela queda da qualidade editorial, tema que fica para outro momento.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Fonte: Vi o Mundo |  Luiz Carlos Azenha

http://www.viomundo.com.br/politica/laurindo-leal-filho-conformismo-anestesiado-pelo-consumo.html