Na sexta-feira, 16 de abril de 2010, na Universidade Estadual de Maringá, ocorreu a Aula Magna proferida pelo Prof. Dr. Emir Sader. O evento, organizado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PEC), é parte da comemoração dos 40 anos da UEM. A formalidade foi evidenciada pelo cerimonial, as autoridades presentes e os discursos de praxe. Os menos acostumados a tais formalismos talvez fiquem perplexos diante de tantas autoridades e da possibilidade de que todos discursem. Para o alívio de muitos, isto não aconteceu.
Após os discursos da anfitriã, Pró-Reitora Profª. Drª. Wânia Rezende da Silva, e do Vice-Reitor Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo, o palestrante foi convidado à tribuna para proferir a aula magna. Não sem antes ouvirmos por alguns minutos o extenso currículo do Prof. Dr. Emir Sader, pronunciado pelo cerimonial. Nestas ocasiões enfatizam-se os títulos e as produções, inclusive com a quantificação. Este procedimento se repete em outros eventos acadêmicos e, inclusive, nas entrevistas na Rádio Universitária. Talvez seja conseqüência da ideologia produtivista hegemônica no campus. Chega a ser cansativo! Por que não restringir-se ao principal e, para os que querem maiores detalhes, informar o link do Currículo Lattes? Ainda mais quando o apresentado dispensa maiores apresentações. Qual o objetivo real deste procedimento? Imagino até que, a depender da índole do convidado, seja constrangedor. A apologia exacerbada fere a vaidade.
Mas, tudo bem! É parte do ritual alçar o convidado às alturas inalcançáveis. Ainda mais quando se trata de uma aula magna. Para se ter a idéia da importância desta, basta saber que, no Dicionário Aurélio, ela é definida como “oração de sapiência”.
Finalmente, o orador tomou a palavra. Simpático e diante de um público que lotava o auditório – as cadeiras disponíveis foram insuficientes –, ele não fez uma “oração”, mas sim um discurso memorável contra o neoliberalismo e os tucanos e a favor dos governos progressistas na América Latina, com destaque para o Sr. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua candidata à sucessão presidencial, a Srª. Dilma. Sua fala foi didaticamente construída a partir da alusão aos eventos históricos das últimas décadas, no Brasil e no Mundo, para levar a audiência à conclusão de que temos apenas dois caminhos: apostar na continuidade do projeto representado pelo petismo-lulismo ou correr o risco de um retrocesso político e social com a vitória do tucanato e seu candidato à presidência, o Sr. José Serra. Para o palestrante, não há alternativa a essa bipolarização.
Ainda que concorde com muitas das críticas e da análise política do Prof. Dr. Emir Sader, penso que, com todo o respeito que ele merece, o Cientista Político e Sociólogo foi suplantado pelo militante. A aula magna bem que pode ser incluída numa peça de campanha política a favor da candidatura Dilma e em defesa do lulismo. É direito de o palestrante defender sua posição política e, considerando-se a sua história de vida e o seu compromisso político-social, não surpreende que o faça. A meu ver, este foi o aspecto mais importante desta aula magna, ou seja, a notória certeza de que não existe neutralidade na “Casa de Salomão”. Ficou patente o engajamento político.
Sou favorável ao comprometimento social e político dos intelectuais. E o Cientista Político-Sociólogo-militante Emir Sader é um exemplo. No entanto, para além de opções eleitorais bipolares e simpatias partidárias, há outras formas de comprometer-se social e politicamente. Há alternativas tão legítimas quanto a adesão a um projeto político partidário. O caminho do poder nem sempre é a melhor opção!